O Flamengo domina o basquete carioca e o brasileiro na atualidade. Além disso, vem sendo uma potência sul-americana. No entanto, isso tudo começo lá atras, na década de 1950. A partir disso, a coluna Garrafão Verde-Amarelo, da Rádio Poliesportiva vem contar a história do primeiro time hegemônico do Brasil e o primeiro título do país em torneio sul-americano de clubes. O Flamengo de 1953 marcou época e coroou o começo de uma dinastia.
Por Yuri Murta, de Rio de Janeiro-RJ
Inegavelmente, o Clube de Regatas do Flamengo tem um dos times de basquete mais tradicionais do Brasil. A história da bola laranja no rubro-negro começou em 1919. Entretanto, é sobre a década de 1950 que estamos aqui para falar. Antes de mais nada, falaremos de um dos anos mais marcantes da história do time da Gávea no Basquete: 1953. Assim, além dele, 2009 e 2014 são os únicos anos de conquista estaduais, nacionais e internacionais.
O ano de 53 não é importante somente para o Flamengo, mas também para o Basquete Nacional. Foi em 1953, em Antofogasta, no Chile, que o Rubro-negro foi o primeiro brasileiro a conquistar o Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões de Basquete. Portanto, o título é um marco para o esporte no país e mudou a forma dos outros olharem para o Brasil.
O Flamengo foi o primeiro clube brasileiro a conquistar um título internacional de basquete, o Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões de Basquete Masculino de 1953 , realizado na cidade de Antofagasta , no Chile . No torneio, o Rubro-negro terminou no primeiro lugar, pic.twitter.com/gh7Sgjea8H
— Mengo Fatos 🚩🏴 (@MengoFatos) July 22, 2020
Até 1950, poderíamos dizer que o Campeonato Carioca de Basquete Masculino era o torneio mais forte do esporte no Brasil, uma vez que era o único com sequência interrupta desde 1924. Depois de 27 edições do estadual carioca, o Flamengo finalizava metade do século já na liderança de títulos da competição. O Rubro-negro possuía seis títulos empatados com o Botafogo e, posteriormente, tinha o Fluminense, com cinco, logo atrás na tabela. Como resultado disso, pode-se dizer que os três times, junto ao Corinthians, eram as maiores forças do basquete nacional.
Apesar de já ser o maior vencedor, a perda do Campeonato Estadual de 1950 para o Grajaú Country Club e a mudança de presidência no mesmo ano mudou o rumo da história do basquete rubro-negro. Tudo já havia começado a se transformar quando Togo Renan Soares, o Kanela, chegou ao clube em 1948. O técnico revolucionário que havia estado à frente dos seis títulos do Alvinegro carioca chegou ao Flamengo.
Dessa forma, logo nos dois primeiros anos (1948 e 1949), o técnico conquistou títulos e quebrou a seca rubro-negra que já durava 13 anos. Kanela e o presidente Gilberto Cardoso transformaram o basquete do time da Gávea em uma máquina de colecionar títulos. Sendo assim, o Flamengo faturou dois estaduais e um título brasileiro da CBD, que ainda não é reconhecido com título nacional.
O outro ícone foi o paraibano Togo Renan Soares, o Kanela. Ele foi técnico do Flamengo de 1948 a 1970 e treinador da seleção brasileira de 1951 a 1971. Com ele o Flamengo foi Campeão Carioca em 1948, 49, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 62 e 64. Com a Seleção Brasileira.
— Luan Lessa (@luanlessa1977) April 11, 2020
No entanto, seria o ano de 1953 que marcaria a história do clube. Com as conquistas do tricampeonato estadual e do campeonato nacional organizado pela Confederação Brasileira de Desportos, o Flamengo rumou em dezembro do mesmo ano para o Chile. Na cidade de Antofagasta, o Rubro-negro disputaria o Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões.
O Flamengo chegou em Antofagasta em dezembro de 1953 para disputar o Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões. Esta era a segunda edição do torneio. Na primeira, o Olimpia do Uruguai havia sido o campeão do torneio que aconteceu na Argentina, em 1946.
O Campeonato teve oito times participantes e durou nove dias. Os rivais do Rubro-negro eram o dono da casa Club de Deportes Antofagasta, o Club Atlético Bill, do Peru, a LDU-Quito, do Equador, Club Olimpia, do Paraguai, Club Deportivo Palestino, também do Chile, Paysandú Fútbol Club, do Uruguai, e Selección Provincial de Santa Fé, da Argentina.
Por consequência do torneio ser de pontos corridos, cada equipe tinha que jogar sete partidas. O clube da Gávea venceu seis e perdeu apenas uma, com direito a atuações espetaculares. Por exemplo, contra o Paysandú, a equipe fez 76 pontos, o maior marca em um único jogo do torneio. Apesar disso, outras duas equipes também fizeram as mesmas seis vitórias e uma derrota. Foram elas o Olimpia, do Paraguai, e o Santa Fé, da Argentina. Como resultado do tríplice empate sem critérios de desempate, a Consubasquet declarou todas como campeãs Sul-Americanas.
Ademais, o Flamengo também teve um resultado individual de destaque. Alfredo da Motta foi o segundo maior cestinha do Campeonato. O atleta marcou 94 pontos, ficando atrás apenas de Isusi, do Paraguai, que marcou 140. Além de Alfredo, o quinteto campeão tinha Algodão, Godinho, Mário Hermes e Zé Mário. O elenco rubro-negro ainda era composto por Gedeão, Tião, Angelim, Arthur, Dobinha, Guguta, Paulo Cezar, Luizinho e Mayer Facci. A equipe comandada pelo histórico Kanela, que hoje dá nome ao ginásio da Gávea, conquistou o primeiro título continental de uma equipe brasileira.
Time de 1953 (Foto: Acervo Flamengo)
Os jornais da época, Correio da Manhã e Jornal do Brasil, noticiaram o título do Flamengo e a divisão com as equipes da Argentina e do Paraguai. Na capa do primeiro, aparecia a reportagem “Em primeiro o Flamengo” e, logo abaixo, era explicado a divisão tríplice do troféu. Além disso, no decorrer do texto, o jornal contava mais sobre a última rodada do torneio e o premio de vice-cestinha de Alfredo.
Parte da capa do Correio da Manhã de 23 de dezembro de 1953 (Reprodução/ Correio da Manha)
Por fim, o Jornal do Brasil dedicou parte da sua edição de esportes para o tema. Na página 11 da tiragem de 23 de dezembro de 1953, a reportagem tinha o título de “Basket-ball em marcha”. Assim, mostrava a crença de que o título em questão indicava que o basquete brasileiro seguia evoluindo. Afinal, era o primeiro título sul-americano de um time brasileiro. Sem dúvida, o texto do JB aprofunda mais o tema e conta mais sobre os jogos ocorridos no último dia. Ademais, a reportagem termina falando sobre a divisão da conquista.
Jornal do Brasil 23 de dezembro de 1953 (Foto: Destaque/acervo Jornal do Brasil)
Depois que voltou do Chile com o título, o Flamengo seguiu fazendo história. O elenco estrelado dirigido por Kanela, fechou uma década de títulos estaduais. Foi a primeira vez que um clube venceu 10 títulos cariocas seguidos. Dentre os dez títulos, apenas duas lendas do basquete do Flamengo estiveram presentes em todas: o técnico Kanela e o primeiro grande ídolo do basquete rubro-negro Algodão. Dessa maneira, tal recorde permaneceu até a atualidade. Em 2014, o Flamengo repetiu a façanha e ainda a ampliou conquistando mais cinco títulos consecutivos.
Além disso, o Rubro-negro da “década de ouro”, apelido dado ao time de 1950, tem estatísticas impressionantes. Foram 197 jogos, durante todo esse tempo, sendo 193 vitórias e 4 derrotas. Tal feito é praticamente impossível de ser batido nos dias atuais, o que mostra mais uma vez a importância desta geração e como ela sempre estará na memória dos torcedores de basquete do Clube de Regatas do Flamengo. O elenco do título e outros jogadores como Godinho, Waldir Boccardo, Fernando Brobró (campeão do mundo em 1959 e 1963), Arthur, Tião Gimenez e Ardelum marcaram época jogando pelo Rubro-negro carioca.
Flamengo 1959 (Acervo/Arquivo Nacional)
Foto Destaque: Reprodução/Acervo/Flamengo
Estudante de jornalismo e geografia, apaixonado por esportes no geral e por tudo que o cerca. Isso define quem é Yuri Lima Murta. O amor principalmente pelo basquete e futebol vem desde pequeno e o g[...]
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