Foram muitas lágrimas, suor, determinação, trabalho e vitórias. Muitas vitórias. Um dos treinadores mais competentes do esporte coletivo brasileiro, deixa o comando da Seleção Brasileira Masculina de Vôlei. Trata-se de Bernardo Rocha de Rezende, o popular Bernardinho, que nasceu no Rio de Janeiro, em 25 de agosto de 1959. Esse virginiano, extremamente vitorioso, tem no perfeccionismo e no trabalho suas principais marcas.
E sua trajetória vitoriosa confirma tais marcas. Bernardinho jogou voleibol entre os anos de 1979 até 1986, na posição de levantador. Como atleta em quadra, a posição que tem a estratégia como característica principal, nortearia o seu futuro. E não deu outra, afinal de contas, Bernardinho se tornaria um excepcional treinador. Como jogador, ele defendeu times do Rio de Janeiro e também a Seleção Brasileira. Dois anos após a aposentadoria como levantador, Bernardinho começaria em uma nova carreira, que lhe daria ainda mais destaque no cenário esportivo brasileiro e mundial. Essa história tem início na Olimpíada de Seul, em 1988, quando Bernardinho foi assistente-técnico da Seleção Masculina de Vôlei, então comandada pelo treinador Bebeto de Freitas.
O início da consagração como esportista, começou a ser traçado em 1990. Naquele ano, ele partiu rumo à Itália, e em solo europeu, treinou a equipe feminina do Perugia. Foram dois anos trabalhando no voleibol italiano. Em 1993, dirigiu a equipe masculina do Modena. No ano seguinte(1994) o Brasil seria sede do Campeonato Mundial Feminino de Vôlei, e Bernardinho assumiria, o até então, principal desafio de sua carreira: comandar a Seleção Feminina Brasileira Adulta. A equipe ficou sob seu comando por seis anos, até o ano 2000, quando Bernardinho então migrou para a Seleção Masculina. Aí começaria a trajetória mais vitoriosa de um treinador de esportes coletivos no Brasil.
O técnico Bernardinho, durante treinamento do time para a Rio 2016. FOTO: CBV- Rio 2016
A vida pessoal e profissional de Bernardinho se entrelaçam. Ele é casado com a também ex-levantadora da Seleção Brasileira de Vôlei, Fernanda Venturini. A união aconteceu em 1999, e hoje, o casal tem duas filhas: Júlia e Vitória. Antes disso, Bernardinho foi casado com a também ex-jogadora de voleibol Vera Mossa, com quem teve Bruno Mossa de Rezende, o Bruninho, atual levantador da seleção brasileira masculina e também do time do SESI SP.
Nos anos em que Bernardinho esteve à frente das Seleções Brasileiras Feminina e Masculina de Vôlei, ele conquistou vários títulos. Os principais triunfos são enumerados numa lista bastante extensa.
Pela Seleção Feminina:
Grand Prix de Voleibol: 1994, 1996, 1998
Campeonato Sul-Americano de Voleibol Feminino: 1995,1997,1999
Jogos Pan-Americanos: 1999
Montreux Volley Masters: 1994 e 1995
1994 – Vice-campeão no Mundial de Voleibol Feminino
1996 – Bronze na Olimpíada de Atlanta
1997 – Bronze na Copa dos Campeões
1999 – Prata no Grand Prix
1999 – Bronze na Copa do Mundo de Voleibol
2000 – Bronze no Grand Prix
2000 – Bronze na Olimpíada de Sydney
Pela Seleção Masculina
Medalha de ouro nos Jogos Olímpicos: 2004 e 2016
Campeonato Mundial de Vôlei: 2002, 2006 e 2010
Copa dos Campeões de Voleibol: 2005, 2009 e 2013
Copa do Mundo de Voleibol: 2003 e 2007
Liga Mundial de Voleibol: 2001, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2009 e 2010
Jogos Pan-Americanos: 2007 e 2011
Campeonato Sul-Americano de Voleibol Masculino: 2001, 2003, 2005, 2007, 2009, 2011, 2013 e 2015
2001 – Copa América de Voleibol
2001 – Campeão do Torneio Ponte di Legno, na Itália
2001 – Campeão do Torneio Consorzio Metano de Vellecamonica, na Itália
2001 – Vice-campeão da Copa dos Campeões de Voleibol, no Japão
2002 – Vice-campeão da Liga Mundial de Voleibol, em Belo Horizonte
2002 – Campeão do Torneio Sei Nazioni
2003 – Bronze no Pan-americano de Santo Domingo
2004 – Ouro na Olimpíada de Atenas
2005 – Vice-campeão da Copa América de Voleibol
2007 – Vice-campeão da Copa América de Voleibol
2008 – Prata na Olimpíada de Pequim
2010 – Campeão do Torneio Hubert Jerzy Wagner, na Polônia
2011 – Vice-campeão da Liga Mundial de Voleibol, na Polônia
2011 – Bronze da Copa do Mundo
2012 – Prata na Olimpíada de Londres
2013 – Vice-campeão da Liga Mundial de Voleibol, na Argentina
2014 – Vice-campeão da Liga Mundial de Voleibol, na Itália
2014 – Vice-campeão Mundial, na Polônia.
2015 – Prata no Pan-americano de Toronto
2016 – Vice-campeão da Liga Mundial na Polônia
2016 – Ouro na Olimpíada do Rio, no Brasil
O técnico Bernardinho, durante treino da Seleção para os jogos da Rio 2016 . FOTO : CBV/ Rio 2016
O vitorioso treinador tem como características principais o estilo durão e disciplinador. Durante o tempo que esteve à frente da Seleção Brasileira de Vôlei Masculino, Bernardinho tornou ainda mais conhecidas algumas de suas características, que haviam levado a Seleção Feminina ao patamar de medalhista olímpica. Seu comportamento buscava sempre a perfeição da equipe em quadra. Ele sempre teve como meta o domínio sobre seu grupo de atletas, além de contar com outra característica fundamental: a falta de papas na língua, que se tornou a principal marca de seu trabalho, polêmico e vencedor.
Em 2006, após a conquista do Bicampeonato Mundial de Vôlei Masculino (Bernardinho conquistaria o tri, em 2010), o jornalista Juca Kfouri, escreveu em seu blog. “O esporte brasileiro jamais teve um treinador como Bernardinho. Nem o lendário Kanela, do basquete bicampeão mundial, nem o hiper vitorioso Lula, que reinou durante 11 anos no campeoníssimo Santos de Pelé. Nem mesmo Telê Santana. Curiosamente, Bernardinho não briga com ninguém. Ou melhor, briga com todo mundo, a começar por brigar com ele mesmo. Briga para vencer, briga para ser o melhor, briga pela inalcançável perfeição. Mas ninguém o vê com picuinhas com este ou aquele atleta. Bernardinho tem a força dos esportistas excepcionais e a formação intelectual que raros esportistas têm. O que explica muita coisa.” (Por Juca Kfouri em 28/08/2006)
Mas no ano seguinte , em 2007 a polêmica até então desconhecida na carreira do treinador, marcaria sua passagem como treinador da Seleção Masculina. Às vésperas da estreia da equipe nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, Bernardinho sacou Ricardinho da equipe que disputaria o Pan 2007. O então levantador era o titular e melhor atleta do mundo na posição. Em meio ao disse-me-disse da época, soube-se que Ricardinho não quis dividir premiações com a comissão técnica, e também brigou com o ponteiro Giba, de quem Bernardinho tomou partido. Bernardinho e Ricardinho fariam as pazes anos mais tarde, e Ricardinho integraria o grupo campeão na Rio 2016.
E a campanha da equipe na Rio-2016 foi surpreendente. O grupo estava desacreditado e sem uma grande estrela em quadra. Mas Bernardinho reconduziu a Seleção ao topo do pódio olímpico. Doze anos após o ouro de Atenas, o comandante uniu os atletas e mostrou a grande força do conjunto para chegar a sétima medalha olímpica em seu currículo. (uma como jogador e seis como treinador)
Por conta de seu trabalho e postura como esportista, Bernardinho é sempre lembrado por grandes empresas para ministrar palestras motivacionais, além de lidar com um grupo de pessoas, mantendo-as focadas para o sucesso dos resultados. Com isso, Bernardinho também escreveu livros sobre o assunto. “Bernardinho – Cartas a um jovem atleta” – “Determinação e Talento- O caminho da Vitória “e “Transformando Suor em Ouro”.
E depois de 16 anos de glórias e conquistas à frente da Seleção Masculina, o treinador se despede da Seleção Brasileira de Vôlei. Renan Dal Zotto, ex-jogador e atual técnico de voleibol, e companheiro de Bernardinho nos tempos de jogador, terá a função de substituí-lo como técnico da Seleção Brasileira. É o final de um ciclo, de trabalho, glórias e conquistas para o vôlei brasileiro.
Jornalista profissional diplomado desde 1998, e pós graduado em Jornalismo esportivo e negócios do esporte. Atua em webrádio desde 2012. Já trabalhou em jornal de bairro, e por 10 anos na NET Serv[...]
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