A relação entre música brasileira e futebol é antiga e rica. E vai além de sambas e choros, gêneros comumente associados ao esporte bretão. Provavelmente começa com Pixinguinha, um dos maiores da nossa música, e vai até os dias atuais, passando por Mutantes e Chico Buarque. Abaixo, o leitor confere uma lista de nove dessas canções – há ainda um link para escutá-las através de uma playlist criada no Spotify – e um pouco da história delas:
Pixinguinha talvez tenha sido o primeiro de nossos músicos a compor o futebol – Foto: Luiz Carlos Barreto/Divulgação
Um a zero (Pixinguinha e Benedito Lacerda) – Choro composto em 1919, após a vitória do Brasil sobre o Uruguai no Campeonato Sul-Americano daquele ano. O jogo ocorreu no estádio das Laranjeiras, que tinha em suas arquibancadas Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha. A seleção brasileira ganhou, naquele dia, seu primeiro título internacional relevante, com gol de Friedenreich, na prorrogação, após empate em zero a zero no tempo normal.
Aqui é o País do Futebol (Milton Nascimento e Fernando Brant) – “Nesses noventa minutos/De emoção e alegria/Esqueço a casa e o trabalho/A vida fica lá fora”. Esses são os versos já cantados, entre outros/as, por Elis Regina, Wilson Simonal e Luciana Mello. A canção, de 1970, foi encomendada pelos produtores do documentário “Tostão: a Fera de Ouro”, que contava um pouco da história do não tão menos genial Eduardo Gonçalves de Andrade, um dos maiores atacantes do nosso futebol. Milton Nascimento é Cruzeiro de coração, time que teve o privilégio de contar com a habilidade de Tostão. Já Brant torcia para o América-MG.
Amor Branco e Preto (Arnaldo Baptista e Rita Lee) – Em 1972, quando foi lançado o LP “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida”, os Mutantes já haviam gravado um disco, “Mutantes e Seus Cometas no País dos Bauretes”. Por seu contrato com a gravadora Polydor permitir apenas um álbum por ano, a solução para os músicos aproveitarem o primeiro estúdio com mesa de 16 canais do país foi creditar o LP que tem “Amor Branco e Preto” à corintiana Rita Lee. Na época da canção, o Corinthians amargava uma fila de 18 anos sem o título paulista. “Por que será que eu gosto de sofrer?/Vai ver que agora eu dei pra masoquista”, entoa a cantora, com sua bela e límpida voz.
Camisa 10 (Composição: Hélio Matheus e Luís Wagner) – “Dez é a camisa dele/Quem é que vai no lugar dele?” era o que o cantor Luiz Américo perguntava no início da música, fazendo referência à aposentadoria do Rei Pelé da seleção brasileira, após a Copa do México. Gravada em 1973, pouco antes do Mundial da Alemanha, “Camisa 10” pedia ao técnico da seleção à época, Zagallo, mexer no time “que tá muito fraco”. Falava, entre outras críticas à equipe, que “sopraram o Furacão (apelido de Jairzinho)” e que “não fosse a força desse pau (Luís) Pereira/comiam um frango assado na jaula do (Emerson) Leão”.
Camisa 10 da Gávea (Jorge Ben Jor) – A canção em homenagem a Zico, maior ídolo rubro-negro, integra o álbum “África Brasil”, de 1976, que ainda tem a também esportiva “Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)”. “Pode não ser um jogador perfeito/Mas sua malícia o faz com que seja lembrado”, canta o flamenguista Jorge Ben, sobre o Galinho de Quintino.
Ponta de Lança Africano (Umbabarauma) – (Jorge Ben Jor) – Faixa que abre o lado A de “África Brasil”, conta a história do “homem-gol”, “um ponta de lança decidido” . A música foi regravada por Jorge Ben, com a participação especial do rapper Mano Brown (que emendou na canção do ídolo suas críticas sociais de sempre), em 2010, pouco antes da Copa da África do Sul.
Cadê o Penalty (Jorge Ben Jor) – “Cadê o pênalti/Que não deram pr’a gente/no 1o tempo?”. Antes de “É Uma Partida de Futebol” (composição de Nando Reis), “hino” clichê moderno do nosso futebol, a banda pop mineira já cantava o futebol, em 1993, no álbum “Skank”. A composição é mais uma do mestre Jorge Ben Jor nesta lista e também faz parte do álbum “A Banda do Zé Pretinho”.
Chico Buarque atua pelo “seu” Politeama, contra time do MST, de João Pedro Stédile – Foto de Stefano Figalo/Brasil de Fato
O Campeão (Neguinho da Beija-Flor) – Composta em 1979 pela voz que puxa o samba-enredo da escola de samba de Nilópolis, a música foi adaptada por torcidas uniformizadas de vários times e entoada nos estádios desde então. “Domingo/Eu vou ao Maracanã/Vou torcer pro time que sou fã” teve adaptações em São Paulo, por exemplo, onde a torcida do Tricolor paulista substituiu o estádio carioca pelo Morumbi.
O Futebol (Chico Buarque) – Certa feita, o colega José Trajano disse que Chico – torcedor do Fluminense e “dono” do Politeama, clube de várzea do Rio de Janeiro que já contou, entre outros, com Bob Marley em sua equipe – é o músico brasileiro que mais canções fez ao esporte bretão (será?). Nesta, do álbum “Chico Buarque”, de 1989, o compositor – gênio do nosso cancioneiro – presta homenagem a Garrincha, Pelé, Didi, Pagão e Canhoteiro.
*crédito da imagem destacada, dos Mutantes: Divulgação